O grito de carnaval “O Samba e a Ciranda – Do compasso do pé ao encontro da mão: só soul porque somos” vai ecoar pela comunidade dos Sousas, em Campinas, no dia 18 de fevereiro. O Bloco Unidos do Candinho se espalhará pelas ruas em seu 24º desfile, com expectativa de envolver cerca de 800 pessoas nesse samba-ciranda.
“O bloco é formado por trabalhadores e usuários da Rede de Saúde Mental. Todos os pacientes estão inseridos em algum serviço de saúde e a proposta é que eles integrem o bloco mesmo não sabendo tocar nenhum instrumento. A gente faz experiências com eles pra ver qual instrumento gostam e ensaiamos uma vez por semana”, diz Fernanda Galves, psicóloga hospitalar e diretora da Unisol SP.
Ela explica que a partir do trabalho do Coletivo da Música foi formado um grupo fixo de pessoas interessadas, que seguiram na criação de um repertório. O grupo, chamado Soul Porque Somos, começou a trabalhar para o bloco e a criação do samba enredo a partir de novembro de 2016.
“A ideia, tema, é ciranda e samba. A gente conseguiu unir os dois para expressar de uma maneira diferente como é nossa atuação dentro da rede. O samba foi composto por usuários e trabalhadores. Foi do grupo Sou Porque Somos que saiu a inspiração do samba, porque o repertório tinha muita ciranda”, explica Fernanda.
O Coletivo da Música é um projeto arte-saúde que busca integrar, criar e potencializar atividades musicais para a rede de saúde mental de Campinas. O trabalho começou em 2009, como iniciativa de um grupo de trabalhadores da rede de saúde mental, e entre as diversas atividades realizadas destacam-se a oficina de percussão e ala musical, integrantes do Unidos do Candinho.
“A música entra na vida dos usuários como forma de tratamento, cuidado, motivação e forma de expressão corporal e emocional. Além de liberar endorfina, ajuda na sociabilização, participação coletiva, aliviando também a forma de encarar a realidade desses usuários, que muitas vezes deixam de se ouvir, de se expressar”, avalia Fernanda.
O maior desafio é conseguir recursos para manter o projeto. É preciso comprar instrumentos permanentemente, fazer sua manutenção, comprar camisetas para a bateria no carnaval, dentre outras despesas do dia a dia. Fernanda aponta que no dia a dia a articulação do grupo é um processo complexo, porque há trabalhadores de vários serviços de saúde mental, e é mesmo um esforço coletivo para estarem todos juntos no mesmo local e horário.
“A gente se divide por alas – instrumental, bateria -, e cada ala tem que ter alguém que consiga organizar esse mini grupo. Temos um mestre e sub mestres para ajudar na organização. Mas não é tão complicado quanto parece. Quando você coloca o instrumento das mãos deles é quando a coisa se organiza”, diz Fernanda. “Nas oficinas circulam mais de 300 usuários. O pessoal da comunidade dos Sousas participa e todo mundo conhece o Candinho. Já conquistamos esse território”.
O Bloco do Candinho tem como realizadores e parceiros o Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, a Associação Cornélia Vlieg, o Conselho Regional de Psicologia, a Unisol Brasil, o Ponto de Cultura Maluco Beleza e a padaria Ricco Pane.
Conheça o samba-enredo do Bloco do Candinho e programe-se para o grito de carnaval:
O SAMBA E A CIRANDA
Eliomar Guimarães Santana, Marcelinho Araújo e Ludmila Palucci
Hoje a terra vai tremer
vai tremer.
Um novo canto entoarei
Oh Juazeiro oh Juazeiro não se canse
Pois o cirando hoje quer te ver dançar
Oh Juazeiro oh Juazeiro não se canse
Abre essa roda para o povo cirandar.
Quanta vida já ficou no Mar
foram tantas travessias,
Os portugueses que trouxeram de lá
e de misturar ficou assim.
O samba e a ciranda se uniram
Quem viu…
Sorriu…
Cantou…
Só soul porque somos…Candinho…
é essa forçar nos faz ser um
Vozes negreiras a cantar a terra novo.
Lamúria de dias ao mar sem findar
Do outro lado a vida dantes de glórias
Agora o açoite no corpo a girar (aaa)
Roda ciranda do trabalho dia a dia
Toda criança gira a brincar
Somos crianças na ciranda dessa vida
Somos o canto que ilumina o meu brincar