Santana do Cariri – A manipueira, um líquido que sobra da prensagem da mandioca, está sendo utilizada na produção de tijolos ecológicos, o chamado tijolo de adobe de terra crua e moldado em fôrmas artesanalmente. A grande vantagem é que o processo de fabricação não exige a queima do tijolo. É só misturar o barro com a manipueira, colocar na fôrma e deixar ao ar livre. Ao contrário do produto convencional, que é queimado com lenha, o tijolo de adobe aproveita a luz solar.
Os elementos químicos presentes no líquido fazem o papel do fogo, pois sua evaporação endurece a peça do mesmo modo que o fogo faria. Esse processo reduz o uso de água, poupa a matriz calorífica, que é a lenha, evitando o desmatamento e a emissão de gases com a queima.
Outra vantagem é a não poluição do meio ambiente. “Este é o grande mérito do processo”, diz o técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Acácio Moraes, destacando que o trabalho é executado dentro dos princípios da construção ecológica, buscando o mínimo impacto ambiental, enfocando a utilização de materiais regionais e valorizando a mão-de-obra local.
É uma técnica de construção natural em que o principal recurso utilizado para construí-lo é o barro, que é encontrado no próprio local da construção. Acácio explica que o processo não é novo. O adobe foi utilizado por todas as grandes civilizações. Pode-se tomar, por exemplo, o material para construir a Muralha da China, já que em boa parte de sua construção o bloco de adobe foi utilizado. No Brasil, este modelo de alvenaria foi trazido pelos portugueses, ainda durante a colonização.
“A construção feita com este tijolo torna-se muito resistente. O interior das casas fica muito fresco, suportando muito bem as altas temperaturas. Em regiões de clima quente e seco, é comum o calor intenso durante o dia e sensíveis quedas de temperatura à noite. A inércia térmica garantida pelo adobe minimiza esta variação térmica no interior da construção”. Ao fazer este comentário, Acácio acrescenta que a restauração dessa técnica de fabricação de tijolo é de fundamental importância para evitar o desmatamento da Serra do Araripe.
O exemplo vem da natureza. O joão-de-barro, conhecida ave nordestina, constrói seu ninho de barro em forma de forno, misturando palha e esterco seco com barro úmido. O ninho suporta chuva e sol por muito tempo. “É assim que nós fazemos”, compara o agricultor José Ivanildo dos Santos, destacando que a maioria das casas do Sítio Cajueiro é de tijolos crus.

Família de agricultora já aguarda conclusão de casa feita com o tijolo ecológico de manipueira . Foto: Antonio Vicelmo.

Peculiaridade
O ninho do joão-de-barro consiste em uma bola de barro, dividida em dois compartimentos. A porta, que permite ao pássaro entrar sem se abaixar, impede que o vento atinja o interior, pois é sempre voltada para o norte. Macho e fêmea ocupam-se ativamente da construção, transportando bolas de barro que são amassadas com os bicos e com os pés.
Outra peculiaridade da casa é a localização da porta de entrada, estrategicamente posicionada na direção contrária à chuva e ao vento. Os agricultores dizem que, quando o joão-de-barro faz a porta de entrada do ninho virada para o nascente, é sinal de que o ano vai ser seco. Até hoje os ornitólogos (estudiosos das aves) não sabem como o joão-de-barro desenvolveu essa habilidade, que o mantém protegido das intempéries. Após cerca de duas semanas, o ninho fica pronto e a fêmea põe seus ovos.
O agricultor José Veranildo Ângelo da Silva, que está construindo sua casa com tijolos crus na Vila Cajueiro, diz que um milheiro de tijolos crus custa R$ 40, enquanto o tijolo de bloco chega em cima da serra por mais de R$ 300 um milheiro. “A economia é mais de 80%”, estima o agricultor. O pedreiro Esmerino Cabral tem os cálculos na cabeça. Enquanto um metro quadrado de parede com bloco consome somente 25 tijolos, o mesmo espaço é feito com 50 tijolos de adobe, o que aumenta um pouco os custos e a mão de obra. Mas esta diferença é diluída no assentamento.

Esmerino Cabral, pedreiro, constrói casa utilizando o tijolo ecológico. O produto, ainda feito em escala artesanal, proporciona conforto ambiental para os moradores do imóvel. Foto: Antônio Vicelmo.

Material consistente
O tijolo cru não precisa de cimento. Do ponto de vista técnico, segundo o pedreiro, a parede com tijolo cru é mais consistente. Mesmo assim, a maioria das casas de farinha da Serra do Araripe continua desperdiçando a manipueira no solo.
A Ematerce, que vem acompanhando o processo de fabricação de farinha e goma, está incentivando o aproveitamento do resíduo, não somente na fabricação de tijolos, mas também como fertilizante, substituindo os agrotóxicos das lavouras, sendo um defensivo natural contra formigas, carrapatos e doenças que atacam as lavouras.
Também pode ser utilizado na produção de vinagre para uso doméstico e comercial, na produção de sabão, adubo orgânico e ração animal.
Acácio acrescenta que o objetivo do projeto é deixar evidente que existem alternativas possíveis de serem postas em prática, com processo simples, utilizando-se “terra crua”, que há milênios é empregada na construção de moradias, buscando soluções para estes graves problemas e sem danos ambientais.
O tijolo cru, segundo o técnico da Ematerce, pode ser uma alternativa viável para diminuir o custo desse componente na construção civil, e, conseqüentemente, na construção de novas casas populares.
Fique por Dentro 
Líquido tem grande potencial de nutrientes
A manipueira, que em tupi-guarani quer dizer “o que brota da mandioca”, tem um grande potencial de nutrientes. Pode ser utilizada como fertilizante natural, substituindo os agrotóxicos das lavouras, sendo um defensivo natural contra formigas, carrapatos e doenças que atacam as lavouras. Na produção de vinagre para uso doméstico e comercial, na produção de tijolos para a construção e na produção de sabão. A manipueira é rica em substâncias químicas como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, ferro, zinco, cobre, manganês, boro, cianeto livre e cianeto total. Com assistência técnica, este líquido, que costuma ser desperdiçado, pode ser utilizado como ração animal.
Fonte: Regional – Diário do Nordeste. 

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