Na pequena comunidade do Atalho, 70 km da cidade de Petrolina (PE), a Embrapa Semiárido inaugura na próxima quinta-feira (02/10), a unidade de demonstração que usa água salobra para produção de água potável, criação de peixe e cultivo de planta forrageira. A unidade é parte de uma experiência da Embrapa Semiárido, junto com a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) e Companhia de Abastecimento de Água do Estado de Pernambuco (Compesa). As instituições procuram desenvolver formas produtivas de uso do rejeito decorrente do processo de dessalinização da água dos mananciais subterrâneos nas áreas secas do Nordeste.
Cerca de 80% dos poços perfurados na região apresentam teores de sais acima do limite aceitável para o consumo humano. Na região já existem instalados cerca de 3000 equipamentos que limpam os sais da água, tornando-a de boa qualidade. Os resíduos desse processo, no entanto, concentram todo o sal excluído de parte da água que se tornou potável.
Tilápias e caprinos – O sistema que será inaugurado tem vários componentes. Em primeiro lugar, a água dos poços subterrâneos é tratada por um equipamento de dessalinização. Uma parte dessa água é transformada em potável, de boa qualidade para consumo humano. Na outra parte, o rejeito, a concentração de sal atinge níveis muito elevados. A pesquisa da Embrapa está utilizando esse rejeito para a criação de peixes e irrigação de uma planta conhecida como erva-sal, que tem boas propriedades forrageiras para consumo pelos animais caprinos e ovinos, principalmente.
Os peixes, da espécie Tilápia Rosa, são criadas em dois tanques com capacidade de 330 m3 cada um. O manejo da criação dos peixes permite a obtenção de peixes prontos para a comercialização com peso variando entre 650-700 kg a cada seis meses. A Tilápia é um peixe muito resistente a doenças, suporta baixos valores de oxigênio e desova o ano todo nas regiões mais quentes do país, além de possuir uma carne saborosa, com baixo teor de gordura e de calorias, rendimento de filé de aproximadamente 40%. No sistema concebido pela Embrapa e em operação no Atalho, serão feitas quatro safras por ano.
O rejeito dos tanques, fertilizado com o estrume dos peixes, é utilizado para irrigar a erva-sal. Esta planta consegue não apenas ser produtiva em solos salinos, como ainda retirar sais do terreno onde está é cultivada. Essa planta alcança índices produtivos semelhantes ao de outras plantas forrageiras, como a alfafa: sua proteína bruta varia de 12 a 22% e a produção de matéria seca atinge entre 10 e 15 toneladas por hectare por ano. É um resultado compatível com muitas forragens irrigadas com água não salina. A erva-sal é ministrada na forma de feno e sempre combinada com outra forrageira. No sistema da Embrapa Semiárido, se conseguiu resultados de engorda de 130 g por dia por animal.
Convivência com o semiárido – A pesquisa conduzida pela Embrapa é financiada pela Fundação Banco do Brasil. Inicialmente, o centro de pesquisa testou o sistema em sua área experimental. Os resultados foram muito animadores, a ponto de Everaldo Rocha Porto levar a sua implantação para testes em uma comunidade de agricultores familiares do semiárido, a de Atalho. O sistema vai elevar a renda e aumentar a oferta de alimento de boa qualidade para as famílias, tanto em conseqüência da piscicultura como do aumento do suporte forrageiro para a criação de animais ovinos e caprinos. A tecnologia é exemplar para a convivência com o semiárido de maneira produtiva e sustentável, assegura o pesquisador.
Segundo Everaldo Porto, o sistema é formado por cinco componentes: produção de água potável, redução do impacto ambiental, produção do peixe Tilápia, produção de forragem irrigada e engorda de caprinos ou ovinos com o feno da erva-sal. Projeções de custo e rendimento do sistema feitos pelo pesquisador estimam uma renda líquida de cerca de R$ 1.414,00 por ano. Contudo, o pesquisador considera que essa rentabilidade do sistema pode ser incrementada. Todavia, a lucratividade não é o ponto de maior relevância na análise do sistema. Há um ganho mais importante que a redução do impacto causado pela deposição do rejeito da dessalinização no solo.
O sistema integrado de produção de água potável, criação de Tilápia e de cultivo da planta erva-sal para engorda de caprinos e ovinos é uma alternativa para a instalação de processos produtivos em pequenas comunidades rurais do semiárido. Segundo Everaldo Porto, o bom desempenho dos componentes desse sistema, torna a tecnologia uma opção sustentável para apoiar os objetivos do Governo Federal contidos nos Programas Fome Zero e Sede Zero.
Mais informações:
Everaldo Rocha Porto – Pesquisador, Embrapa Semiárido – tel. 87 3862 1711
Endereço eletrônico: erporto@cpatsa.embrapa.br
Marcelino Ribeiro – Jornalista, Embrapa Semiárido – tel. 87 3862 1711
Endereço eletrônico: marcelrn@cpatsa.embrapa.br
Fonte: Embrapa Semiárido