Leia aqui a entrevista publicada originalmente na Revista da Unisol Brasil impressa, do 1º trimestre de 2015.
Tradição na luta pelos interesses da classe trabalhadora e da Economia Solidária são dois dos principais valores de Barba
O deputado Barba “Teonílio Monteiro da Costa”, é hoje um dos mais fortes representantes da Economia Solidária no Estado de São Paulo. Mineiro da cidade de Água Boa, reside há 51 anos na Vila São José, em São Bernardo do Campo (SP). Formado em Economia, estudou na Universidade Metodista. Diretor licenciado do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e da Unisol Brasil (Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários) é pai de duas filhas e ainda criança trabalhoi como catador. Iniciou a sua militância como metalúrgico no ABC nos anos 80, depois de contratado pela Volkswagen. Com o crescente interesse pela política, passou a participar da organização sindical e da representação política da classe trabalhadora, filiando-se ao Partido dos Trabalhadores (PT).
Na Ford, na virada da década, foi representante da Cipa, depois eleito e reeleito membro da Comissão de Fábrica, integrando a direção e a bancada de negociação da Federação Estadual dos Metalúrgicos (FEM-CUT). Desde 1999, é representante no Comitê Sindical de Empresa (CSE). Em 2014, foi eleito deputado estadual, com 95.156 votos. Defende a bandeira do Partido dos Trabalhadores por uma sociedade igualitária, com desenvolvimento econômico e geração de emprego e renda; bem como programas de formação e qualificação para que os trabalhadores, trabalhadoras e jovens enfrentem os desafios do futuro. Luta pela participação social na construção de políticas públicas de saúde, educação, segurança, transporte e habitação.
Unisol Brasil – A economia solidária enfrenta alguns obstáculos para se inserir na economia formal, pois tem que ter o resultado do seu trabalho, seja ele um produto ou serviço, que possa ser considerado uma boa opção entre as demais.Como você vê as políticas públicas nos próximos quatro anos para a ES para permitir mais avanços ?
Barba – É preciso focar no mercado interno, aproveitando as forças da agricultura familiar, do associativismo, do artesanato, da reciclagem e da construção civil. Olhar para a economia brasileira vai se comportar ao longo deste ano, por exemplo. E neste momento eu acredito que a estratégia é consolidar o que já existe, por exemplo, com o trabalho da Unisol Brasil junto aos 840 empreendimentos solidários filiados por todo o País. Dentro do atual momento econômico, aproveitar a relativa estabilidade do mercado de trabalho para dar continuidade nos projetos em andamento desde o ano passado e anteriores e fortalecer aqueles que estão em vigor.
UB- O momento político é delicado em 2015. Como está a criação da Frente Parlamentar na Assembleia Legislativa no Estado de São Paulo ?
Barba – Estamos articulando a frente parlamentar na ALESP; ela já existe na Câmara dos Deputados Federais, em Brasília (também conhecida por bancada, é um grupo de membros dos poderes legislativos federal, estaduais e municipais que tem sua atuação unificada em função de interesses comuns, independentemente do partido político a que pertençam). O interesse nestes grupos de parlamentares é o de fortalecer a ES por meio de negociações e projetos que possam permitir a um agricultor familiar ampliar a base de comercialização de seus produtos, e que cada vez mais estas famílias possam vender diretamente ao governos sejam eles municipais, estaduais ou Federal, para citar uma situação específica. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) tem sido o catalizador de várias iniciativas nesta direção. Sabemos que este segmento de agricultura é responsável por 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros, um percentual extremamente expressivo. Temos que aproveitar os programas sociais que existem para ampliar a articulação política em torno desse objetivo.
UB – Qual o ponto nevrálgico entre os diferentes grupos de representantes nacionais ?
Barba – Identifico isto no decreto Lei nº 5.760, de 1996, durante o de Fernando Henrique Cardoso, que estabelece que o representante legal das cooperativas é uma determinada entidade. Estamos tentando mudar esta lei, e esta mudança nos daria mais liberdade. Alguns critérios são de difícil conciliação, por exemplo, aquele que eles entendem que o representante das cooperativas deve ter mais de 10 anos de organização, estar representado em pelo menos 14 estados do País, entre outros detalhes. Tudo é um processo, precisamos ter persistência.
UB – No âmbito estadual o que o seu mandato focará nas políticas públicas de economia solidária ?
Barba – Entendo que devemos construir junto ao Governo do Estado de São Paulo um fundo de apoio à economia solidária. Cada contratação pelo governo poderia ter um percentual que iria para este fundo. Na prefeitura de Osasco isto já ocorre, e os valores arrecadados vão para associações e outras entidades de ES. Não será fácil conseguir isto, repito, mas temos que seguir em frente. Para ter adesões e implantarmos o fundo, é preciso o que chamamos de ‘vontade política’.Paralelamente é necessário avançar na conscientização e mobilização a respeito da ES. As entidades e os movimentos sociais distribuídos pelo Brasil ainda carecem de condições para uma atuação política mais pontual. A parte logística, o deslocamento e a permanência de grupos de militantes da ES do interior do País em eventos em Brasília, por exemplo, exige, como qualquer outro, planejamento, discussões, amadurecimento de uma pauta comum e tudo isto tem custos. Porém é meu compromisso continuar buscando condições para ampliar a presença da Economia Solidária e de seus representantes locais na política pública do estado de São Paulo.