Bruno Papignani, presidente da Federação dos Empregados Operários Metalúrgicos (FIOM) Emilia Romagna, tem longa trajetória no movimento sindical da Itália. A Federação é parte da Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL). Pela primeira vez no País, Papignani avaliou a sua visita ao Brasil, após conhecer o movimento sindical dentro da empresa Volkswagen do Brasil e participar do primeiro dia do segundo módulo de Formação de Lideranças da Unisol Brasil. Além de reuniões com lideranças do movimento sindical e uma visita a cooperativas do Rio Grande do Sul (que foi realizada após esta entrevista).
“Com certeza, entre aquilo que sabia sobre o Brasil por meio da mídia e aquilo que tenho visto, tem muita diferença. Eu não havia entendido a força do ataque da direita à Presidente, achei que fosse apenas uma fragilidade da presidente Dilma e não um ataque tão intenso como estive ouvindo os relatos. Até agora os contatos que eu tive foi para compreender a realidade atual, é preciso que a nossa comitiva dê um passo adiante para que possamos ver o que pode ser realizado em termos de colaboração entre os dois países. Uma coisa que eu notei num encontro pela manhã com o presidente do sindicato dos Metalúrgicos do ABC, João Cayres, e à tarde com o deputado estadual Barba, foi essa disponibilidade de ser muito direto, muito franco, de colocar as coisas mesa que me surpreendeu, fato que normalmente não acontece, pois as pessoas querem mais é livrar a própria ‘pele’, isso tudo é muito significativo.
Além daquilo que são os aspectos teóricos, é muito importante tornar possível os aspectos práticos, por exemplo, na Emilia Romagna, temos representação em vários pontos do Estado, então essa abrangência impede que um empreendimento seja colocado contra o outro, atrapalhando e ocasionando ‘gaps’, diferenças entre eles. Se posso destacar outro aspecto, foi a visita a Volkswagen, e o fato de termos organizado a visita lá dentro teve um lado bastante interessante de conhecer as práticas internas e a produção mas por outro lado, não permitiu nos aprofundarmos mais nos problemas, pois estávamos juntos com funcionários da empresa que não são parte do movimento sindical, junto aos representantes do movimento sindical”, finalizou.
Sandra Pareschi, da Nexus, já esteve outras vezes no Brasil, costurando parcerias com redes de cooperativas afiliadas da Unisol. Ela comenta sobre a atuação de cooperativismo da Unisol: “acho que está no processo muito delicado, parece que tem uma alternativa entre o movimento cooperativo muito mais moderno, tecnológico, eficiente, presente no mercado e o compromisso com o social e a economia solidária. Se essas coisas começam a caminhar separadamente, será um momento bem difícil, não sei se haverá crescimento ou a perda de identidade. Eu gostaria que isso não acontecesse, em respeito ao passado, eu acho que chegamos num momento pontual devido à crise, ao mercado…porque é que parece que existe um antagonismo entre a capacidade de estar mais forte no mercado e ser mais inclusivo e participativo. As duas coisas precisam caminhar juntas, porque senão corre o risco de acontecer aqui o que está acontecendo na Itália, onde o movimento cooperativista, para o sindicato, perdeu totalmente a sua identidade, as cooperativas parecem uma empresa capitalista convencional. A única diferença é que lá as empresas convencionais tem leis que permitem com que elas explorem mais o trabalho. Dessa forma, estamos numa verdadeira luta para manter ou mesmo recuperar certos direitos no cooperativismo.
Me surpreendeu aqui o clima de luta partidária, está uma atmosfera estranha…notei que foi muito difícil a última campanha eleitoral (para presidente no Brasil). Espero que esse clima não impacte e não é possível relaxar, é necessário continuar a luta sindical”, concluiu.
Sobre a CGIL
A Confederação Geral Italiana do Trabalho (em italiano Confederazione Generale Italiana del Lavoro; CGIL) é o maior sindicato da Itália, com mais de 5,5 milhões de inscritos. Foi fundado em 1944 para fazer oposição à Confederação Geral do Trabalho (Confederazione Generale del Lavoro; CGdL) criada em 1906.
Sobre a Nexus
Nexus Solidariedade Internacional Emilia Romagna é o Instituto de Cooperação para o Desenvolvimento, uma ONG fundada em 1993 pela CGIL (Confederação Geral Italiana do Trabalho). A Nexus realiza a cooperação internacional, a fim de contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas e fortalecer as instituições democráticas, com particular atenção às questões trabalhistas, no pleno respeito pela diversidade cultural e do princípio da auto-determinação dos povos. Hoje, a Nexus está presente na América Latina, na África, no Mediterrâneo e nos Territórios Ocupados da Palestina. Na Itália, a Nexus organiza iniciativas para promover a consciência intercultural e a solidariedade, cursos de formação para delegados sindicais e trabalhadores. Além disso, promove programas de educação para a globalização para estimular a consciência e aumentar o interesse do público italiano e europeu sobre os problemas dos países em desenvolvimento.