copacaju
A Copacaju, central de cooperativas de beneficiamento de caju localizada no município de Pacajus, no estado do Ceará, conta agora com certificação Fairtrade (comércio justo) para agregar ainda mais qualidade aos seus produtos. Desde dezembro de 2016 o grupo já fornece a castanha de caju certificada.
A Central hoje é composta por cinco fábricas de processamento da castanha, localizadas nos municípios de Ocara, Arati, Chorozinho, Tururu e Aquiraz, no estado do Ceará, e seis cooperativas. Além da castanha, o grupo também beneficia polpa de frutas e produz cajuína. Cerca de 280 famílias estão envolvidas diretamente no processo.
O atual grande comprador das castanhas da Central é o Walmart Brasil, que consome quase a totalidade da produção e coloca no mercado por meio do Sams Clube, em embalagens de um quilo. Há alguns anos a Copacaju também chegou a vender para a rede de supermercados Bom Preço, do mesmo grupo, sachês de 90 gramas. O restante da produção é comercializado junto a compradores de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e também para o estado de Minas Gerais.
Uma cooperativa italiana chamada Chico Mendes também compra parte da produção da Copacaju. Uma vez por ano eles vêm ao Brasil e correm Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, e também em locais no norte do país e selecionam castanha de caju, castanha do Brasil, de baru, e fazem um contêiner misto para exportação. Parte da produção da Copacaju ajuda a encher esse contêiner.
Para Tereza D’Ávila, gerente comercial da Copacaju, a criação da Central fez os produtores de castanha perceberem a dependência dos atravessadores. “Eles não tinham essa noção de que eram dependentes do atravessador. Muito pelo contrário, eram gratos a eles por pagaram antes e comprarem a safra. Por isso, uma das grandes dificuldades da Copacaju é o capital de giro pra compra da matéria prima. O atravessador sempre se oferece para comprar o produto à vista. Se ele entrar no projeto da Central, vai esperar pelo menos 40 dias para receber, entre o beneficiamento e o recebimento dessa venda. Precisamos desse capital para concorrer com os atravessadores”, avalia ela.
Tereza avalia que a certificação foi importante para a Copacaju porque as cooperativas precisaram qualificar melhor a parte burocrática e administrativa da produção. Eram produtores que nunca tinham estado à frente de um negócio, embora tenham tido contato com apoio de várias instituições como a Fundação Banco do Brasil, o Sebrae, INCRA, dentre outros parceiros.
“Além da certificação trazer credibilidade para a produção, estabelece que o recebimento se dá em 50% do valor da compra ao fechar o contrato, 30% quando o produto embarca no porto e os outros 20% ao receber a mercadoria, depois de conferida. Esses 80% pagos assim adiantam muito pra quem não tem capital de giro”, diz ela. “O próximo passo é a certificação orgânica, e a certificação do comércio justo foi um passo importante também para que as cooperativas estejam mais organizadas para esse novo processo”.
A presidente da Central Copacaju, Cleoneide de Lima Silva – que é integrante de uma das cooperativas integrantes da Central, a Copave, localizada em um assentamento em Aracati -, concorda que a certificação foi muito boa para organizar melhor os procedimentos e o dia a dia das cooperativas. “Como a gente é produtor, tudo isso é coisa nova. No início era um medo do desconhecido, mas vimos que isso ia agregar valor ao nosso produto e teremos um preço justo. E é um orgulho ver que o nosso produto vai estar em vários cantos com essa certificação”.
Cleoneide conta que a Copacaju começou a avançar também com o IBD, certificadora brasileira de produtos orgânicos, mas o processo foi momentaneamente interrompido e deverá ser retomado em breve. “Agora vai ser mais fácil, depois que passamos pela certificação Fairtrade. Levou bastante tempo pra gente organizar essa certificação. A visita da cooperativa Chico Mendes e o acompanhamento da Unisol foram muito importantes pra gente. Isso fez a gente crescer”, avalia.
 

Um pouco da história

O projeto de uma central que reunisse cooperativas e promovesse a distribuição da castanha de caju começou a partir de uma iniciativa que a Embrapa cadastrou no Banco de Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil por volta do ano de 2005. A proposta apresentada era que os próprios produtores das regiões que têm o caju como mais importante cultura agrícola se reunissem e tivessem uma fábrica de beneficiamento dessa castanha in natura, agregando valor e vendendo por um preço melhor. Com isso, a ideia era também livrar o processo do atravessador e fazer a venda direta.
Originalmente eram dez fábricas, localizadas em dez municípios, e uma central para fazer a comercialização. Eram chamadas de mini fábricas, e cada uma delas tinha capacidade de beneficiar 2 mil quilos de castanha. Mensalmente, juntando toda a produção, dariam 20 mil quilos para exportação.
No entanto, Tereza avalia que por não terem considerado a distância da central até as comunidades envolvidas – algumas ficavam a mais de 300 km de distância -, depois de um tempo algumas dessas fábricas mais distantes fecharam, ou passaram a trabalhar de forma independente. Cinco permaneceram conectadas à Copacaju.
Apesar da redução do número de fábricas, elas foram revitalizadas e hoje têm capacidade dobrada de fornecimento: são quatro mil quilos de amêndoas (castanha in natura cozida no vapor e descascada) enviados por cada uma delas à central.
Além disso, por intermédio da Fundação Banco do Brasil, três fábricas foram montadas para a produção de cajuína e polpa de frutas. Isso ajudou a Copacaju a entrar no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que estabelece que as prefeituras comprem ao menos 30% dos alimentos destinados à merenda de agricultores familiares. A polpa de fruta tem boa saída nos editais do PNAE das prefeituras locais.
Outra frente aberta é a participação em um projeto junto ao governo do estado e o Banco Mundial, que está sendo elaborado pela Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Ceará (FETRAECE). Um projeto que vai envolver, além das regiões onde estão as cooperativas e a Copacaju, outros assentamentos, onde serão criadas cooperativas e novas fábricas. A expectativa então é que a central se movimente ainda mais. Segundo Tereza, nessa frente há recursos previstos da ordem de R$ 1 milhão para cada cooperativa se expandir e se renovar. O projeto foi aprovado no fim do ano passado, e agora em fevereiro serão assinados os convênios para iniciar o trabalho.
Há ainda outro fator com o qual os produtores precisam lidar: a seca prolongada. No Ceará, grandes indústrias de castanha de caju fecharam nos últimos anos. Ficaram as médias e as pequenas, mas a procura pela castanha de caju continua grande. Os cajueiros mais antigos não suportam a seca, o que faz diminuir o número de árvores e cair a qualidade do produto. “O estado precisa dessa revitalização do mercado da castanha de caju. É hora do pequeno produtor se unir, fazer um projeto maior, que ocupe esse espaço deixado pelas empresas que fecharam, e ter um bom volume para atender a demanda, que é muito grande”, diz ela.
 

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