A Caderneta Agroecológica é considerada um instrumento político-pedagógico que permite, não só dar visibilidade à produção das agricultoras, como também à outras questões como o debate de gênero, a construção da autonomia das mulheres rurais e a visibilidade do que elas produzem, isto é possível, a partir dos espaços de produção protagonizados pelas mulheres nas unidades familiares. O instrumento foi criado pelo centro de tecnologias Alternativas da zona da mata (CTA-ZM), para auxiliar na administração da produção de mulheres agricultoras, por meio do registro do consumo, da troca, da venda e da doação do que é cultivado, principalmente nos quintais produtivos.

E foi neste sentido, que na terça-feira (19/08/2020), na esfera do Projeto Terças do ATER Mulher, que a UNISOL BRASIL, trouxe em sua segunda live a temática: “A Caderneta Agroecológica e a Visibilização da Produção das Mulheres Rurais”, mediada pela Jeosafira Chagas, Coordenadora Técnica do ATER Mulher – Unisol, e tendo como convidada a Engenheira Agrônoma, Especialista em Agricultura Tropical e Consultora Especializada em Quintais Produtivos, Júlia Aires.

A live se constituiu como um momento de relatos práticos, baseado na experiência da convidada no processo de capacitação e sistematização da caderneta agroecológica, quando da sua aplicação no Piauí.

Com base em sua vivência prática, a Júlia afirmou que a caderneta é um instrumento que nasceu para que as mulheres agricultoras pudessem ter noção de toda sua produtividade de um ano, basicamente estruturado em quatro atividades produtivas que são, consumo, doação, troca e venda, “e que a partir daí exista um processo de reflexão, percepções […] e construção da autonomia econômica, pessoal e política das mulheres rurais, fortalecendo suas iniciativas no campo”.

A convidada ainda destaca que a caderneta tem outros objetivos que são: dar visibilidade à produção das mulheres; demonstrar o potencial dos quintais produtivos e das atividades protagonizadas pelas agricultoras; e, incidir sobre as políticas específicas para as mulheres. “A caderneta é um instrumento simples, um caderno de anotações, mas extremamente potente porque seus resultados fazem surgir muitas outras frentes”. Ainda, de acordo com Júlia Aires, “algumas mulheres não conseguiam provar que eram agricultoras, e não conseguiam ter acesso a benefícios, a aposentadoria, a licença maternidade, DAP, e através da caderneta elas puderam provar”.

Julia ainda reafirma que as cadernetas resultam, desde propostas de políticas públicas, até a resolução de conflitos familiares; “mulheres que resolveram questões em suas casas, relacionadas a algumas violências que elas sofriam, como maridos que falavam que elas não trabalhavam que só ajudava, e através da caderneta elas conseguem provar, que contribuem muito fortemente para com a economia da casa”.

Nesse sentido, Julia Aires afirma que “um dos grandes avanços que a gente tem é da auto estima das mulheres, […] elas passaram a vida ouvindo que elas não trabalham, que elas ajudam […]. Em alguns casos elas descobrem que quem banca a casa são elas, isso é muito importante.”

É possível dizer que o resultado da Caderneta é político, no sentido de construir novas ferramentas de análise da realidade social, configurando-se como uma estratégia voltada para dar visibilidade e valorizar o trabalho realizado pelas mulheres, promovendo o empoderamento das agricultoras e o fortalecimento de suas bandeiras. Portanto, é um instrumento metodológico que contribui para fortalecer o elo entre a luta das mulheres e a construção da Agroecologia.

Em relação ao papel da ATER, Júlia destaca a relevância da equipe técnica no processo de implantação e uso da caderneta agroecológica pelas mulheres rurais, salientando a necessidade de assessoria/orientação, bem como no acompanhamento sistemático da aplicação.

Por fim, cabe considerar que cada uma das atividades feitas no âmbito do projeto ATER MULHER, tendo por base a caderneta agroecológica, podem ser aproveitadas como trabalho educativo/formativo/comunicativo – em que podem ser realizadas práticas, vivências, intercâmbios e reflexões sobre a economia feminista e solidária, divisão sexual do trabalho, agroecologia, segurança e soberania alimentar, violência sexista, comercialização, autonomia, entre outras temáticas pertinentes as mulheres rurais.

O Projeto Terças do ATER Mulher, continua até o final de Setembro, sempre voltado para debater temáticas que fortalecem e dão visibilidade ao protagonismo das mulheres do campo e a ATER como agente indutor.

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