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Eleonora Migno, da Cospe, entende que a parceria com a UNISOL pode tornar o segmento relevante. 

Responsável pela Área da América do Sul da Cospe (Cooperação para o Desenvolvimento dos Países Emergentes), Eleonora Migno concedeu entrevista à UNISOL Brasil, à qual falou da parceria entre ambas instituições e da importância que o trabalho conjunto tem para o desenvolvimento da Economia Solidária no Brasil e no mundo.

Politicamente, podemos contribuir para que a Economia Solidária torne-se um setor socioeconômico relevante no mundo, capaz de empregar milhares de pessoas e tornar-se um motor do desenvolvimento”, disse. Leia a entrevista na íntegra.

UNISOL Brasil – Fale um pouco sobre a Cospe. O que ela faz?

Eleonora Migno – A Cospe nasceu em 1983, em Florência, na Itália, com o objetivo de contribuir para superar as condições de pobreza e de injustiça social no mundo. Desde as suas primeiras ações de cooperação em alguns países da África e da América Latina, até hoje em dia, a Cospe trabalha na realização de mais de cem projetos em cerca de 30 países. Desde a sua fundação visa promover programas para a difusão dos princípios sobre o anti-racismo e interculturalidade e participa de atividades e campanhas de solidariedade.

A Cospe trabalha para a construção de um mundo onde a diversidade seja considerada um valor, um mundo de muitas vozes, onde o encontro enriquece, onde a justiça social, antes de mais nada, dá-se através da concessão a todos de direitos e oportunidades iguais. A instituição opera para o diálogo entre as pessoas e entre os povos, para o desenvolvimento equitativo e sustentável, com a finalidade de favorecer a realização da paz e da justiça entre os povos.

UB – Como se dá a atuação da Cospe internacionalmente? De onde provém os recursos e como a entidade consegue contribuir com a Economia Solidária de outros países?

Eleonora – A Cospe opera na Itália e internacionalmente. No exterior, a Cospe opera em 30 países por meio de parcerias com as instituições públicas e com a sociedade civil. Em 23 desses países a Cospe possui sedes descentralizadas próprias que, com o aumento da autonomia e responsabilidade das funções, têm a incumbência de articular alianças estratégicas com parceiros locais, a fim de apoiar a sua ação nas áreas e melhorá-las por meio de redes internacionais. Os recursos provêm de entidades públicas e privadas: Ministério dos Assuntos Exteriores, Comissão Europeia, regiões da Itália, autoridades locais, empresas, doações, atividades de fund raising.

A Cospe está contribuindo, a nível micro, médio e macro, com a Economia Solidária na América do Sul com as Federações das Cooperativas de Trabalho e da Economia Solidária; na América Central e Caribe apoiando associações de agricultores familiares, pescadores e mulheres artesãs; na Tunísia, apoiando as primeiras experiências de Economia Solidária do país; e no Egito e na Palestina estimulando organizações de produtores do comércio justo. As ações de apoio à Red del Sur e às empresas recuperadas da Argentina foram para a Cospe as pioneiras no setor da Economia Solidária. A partir daquelas experiências, temos articulado com outras organizações locais em outras áreas do mundo para continuar fortalecendo a Economia Solidária no mundo por meio de ações de formação, participação em fóruns etc.

UB – Fale da parceria entre Cospe e UNISOL Brasil. Como começou e como funciona?

Eleonora – A parceria da Cospe com a UNISOL começou por meio do contato do Enrico Giusti, em 2006. A partir da participação no projeto Red del Sur, a Cospe e a UNISOL Brasil iniciaram uma atividade estável de apoio aos sujeitos ativos da economia social e solidária, em particular nos setores da agricultura familiar, turismo responsável e da cultura, no Brasil e na América Latina, com uma abordagem de cooperação para o desenvolvimento e cooperação técnica. A parceria entre Cospe e UNISOL baseia-se numa recíproca confiança e na mesma visão de contribuir com a promoção da Economia Solidária no mundo. As duas organizações compartilham o comum interesse de promover e estimular a cooperação técnica e financeira, a fim de sustentar o desenvolvimento econômico e o bem-estar social. Entre os instrumentos da parceria lembramos os projetos, a assistência técnica, a formação, entre outros.

UB – Por que é importante para a Cospe manter parceria com a UNISOL?

Eleonora – A parceria é importante porque a UNISOL representa uma parte relevante da Economia Solidária do Brasil e do mundo e as duas organizações juntas podem, por um lado, apoiar tecnicamente os sujeitos da Economia Solidária no Brasil, na América do Sul e nas ações de cooperação Sul-Sul. Politicamente, podemos contribuir para que a Economia Solidária torne-se um setor socioeconômico relevante no mundo, capaz de empregar milhares de pessoas e tornar-se um motor do desenvolvimento.

UB – Fale dos resultados desse intercâmbio. O que a UNISOL aprende com a Cospe e o que a Cospe aprende com a UNISOL?

Eleonora – A UNISOL aprende uma diferente forma de acompanhar os próprios sócios, participando de projetos de cooperação internacional, e tem a possibilidade de entrar em novas Redes de parceria de nível internacional e fortalecer as existentes, além da possibilidade de participar e conhecer novas entidades e realidades europeias da Economia Solidária e de participar e levar sua experiência em projetos de níveis regionais e internacionais.

A Cospe, por sua vez, passa a conhecer a realidade da Economia Solidária do Brasil, a visão politica do movimento da Economia Solidária e a possibilidade de atuar de una forma mais eficaz no País, além de poder apoiar os processos de fomento da Economia Solidária no Brasil e no mundo.

UB – Quais os principais projetos da Cospe em parceria com a Unisol que estão em andamento no Brasil? Algum projeto já foi concluído? Qual o resultado desse projeto concluído?

Eleonora – A Cospe e a UNISOL participaram juntas do projeto Red del Sur, um projeto Regional que tornou possível a criação de uma nova entidade política importante: a Cicopa Mercosur. Entre os outros resultados, a identificação de cadeias produtivas inter-regionais como a Cadeia Solidária do PET entre Brasil e Uruguai, e o fortalecimento de várias cadeias nacionais como a do mel, do caju e dos recicláveis. O resultado é o fortalecimento do papel político da Economia Solidária no Mercosul.

UB – No seu ponto de vista, qual segmento da Economia Solidária tende a se solidificar com mais rapidez no Brasil?

Eleonora – Do meu ponto de vista, os segmentos da agricultura familiar, da reciclagem e o do cooperativismo social. Estes segmentos são cruciais para a sustentabilidade do Brasil e o governo já vem apoiando com políticas públicas estes setores. O apoio das políticas públicas é importante para fortalecer as organizações, que muitas vezes são pequenas e frágeis e representam uma ferramenta para que a Economia Solidária se firme como um instrumento de desenvolvimento sustentável, permitindo uma transição para uma economia ética e um trabalho decente.

UB – Fale sobre a Economia Solidária no Brasil? Qual o grau de maturidade em comparação com a Itália e com outros países onde vocês atuam?

Eleonora – O sistema econômico capitalista não é mais a resposta e o instrumento, nas mãos do povo, para construir e manter a vida. A crise atual é uma crise de sistema: somente uma economia local organizada, cheia de intercâmbios, parcerias e solidariedade pode dar respostas à pobreza e à falta de coesão no mundo. O exemplo das experiências do Brasil nos mostra que outro mundo é possível, alternativo ao modelo liberal. Uma economia com finalidade coletiva, que preserva o meio ambiente e as pessoas e que busca a equidade e os direitos humanos. Acho que o Brasil pode ser um exemplo para muitos dos países que estão em dificuldades. Mas para que isso aconteça, é necessário que a Economia Solidária, como modelo alternativo, seja reconhecida formalmente como setor socioeconômico real e dentro das normas legais dos países e do mundo.

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