Confira um resumo do que aconteceu na 4ª edição da Quintas de Formação no Mês da Autogestão
O Debate acerca do setorial de reciclagem e os desafios no enfrentamento ao cenário pandêmico, foi o tema da última quinta de Formação – Autogestão . A live contou com a participação de Claudete Costa, Catadora de materiais recicláveis, presidente da UNICATADORES; Mônica da Silva, Catadora de materiais recicláveis, Unisol São Paulo e MNCR; Jeane Santos, Catadora de materiais recicláveis , Associação Recicla Bahia e MNCR; Jennifer Thais, Catadora de materiais recicláveis, ASCITO e MNCR e nossa mediadora Neli Medeiros, Catadora de materiais recicláveis, Coopersoli, MNCR, ANCAT e Secretaria de Políticas Afirmativas da Unisol Brasil.
O Setorial de Reciclagem representa o debate entre uma cidade sustentável e a organização socioprodutiva urbana. O lugar do agente ambiental e do reaproveitamento dos resíduos enquanto plataforma de valor de uso e não de mera monetização das coisas. O desafio de trazer a luz uma sociedade consumista versus o consumo consciente. E ai, vem a pandemia, escancarando as desigualdades e as inconformidades, invisibilizando ainda mais os invisíveis, contribuindo para o alargamento das ações de descaso e políticas de abandono.
Muito se fala sobre cuidados, de evitar a contaminação em massa, porém pouco se falou das condições dignas, de acesso, de garantias. Vários municípios pararam a coleta seletiva, com o temor de que os catadores fossem contaminados com os resíduos de pessoas que testaram positivo para o novo coronavírus. Porém poucos se preocuparam com a maioria absoluta dos catadores que sobrevivem desse processo de subsistência e que se trata de um serviço público essencial, sem acesso a políticas públicas com diretrizes inclusivas.
“No início parecia que tudo seria mais simples, passageiro e fomos aos poucos tentando entender como essa pandemia iria refletir nas nossas vidas. Vinheram as orientações e tivemos que parar; no nosso caso resolvemos parar as atividades em abril – 30 dias – para pensar como retomar as atividades com segurança. Mais as urgências eram muitas, precisávamos ser rápido , retornar logo, porque não ir para os galpões significava que o dinheiro não entra em casa , que a conta não fecha no final do mês” disse Jennifer Thais – ASCITO/MNCR.
Na mesma linha, Claudete Costa expressou sua preocupação: “Eu parei de trabalhar no dia 16 de março, porém foi no dia 18 que percebi que tinha pego o COVID, não tive os sintomas mais forte do vírus. Mesmo assim, isso me impossibilitou de ir para às ruas. Em casa começamos uma organização virtual de apoio aos catadores de rua – eles sao ainda mais vulneráveis que nós – e daí surgiu a Vakinha Solidária. Um parte fomos resolvendo, tínhamos o alimento, mais o recurso para pagar as outras contas, não (…) Hoje percebo que estamos em um momento de reflexão e que não dar mais para os catadores e catadoras trabalharem de graça junto as gestões municipais, a contratação precisar ser uma ação imediata; sem isso não teremos como manter as ações e estrutura necessária para sobreviver”.
Mesmo com o retorno de alguns as atividades normais, os preços dos resíduos caíram muito, porque a própria estrutura de abastecimento limitou que as ações estruturantes fossem fortalecidas. Sem equipamentos de proteção individual, condições de manter o distanciamento, Jeane dos Santos da Associação Recicla fala que só Deus ” Nós catadores sofremos todos os tipos de vulnerabilidades, Deus é quem nos protege… Deus gosta de catador… estamos sempre correndo risco com ou sem pandemia. Estamos a mercê da sorte!”
Diante de várias dificuldades, não foram poucas as frases de solidariedade, tempos uns aos outros, não desistiremos e vamos resistir sempre nos fortalecendo e seguindo. Mônica da Silva da Unisol São Paulo falou das eleições e das escolhas que o movimento precisa assumir “ Esta chegando as eleições, tem muitas candidaturas de companheiros catadores, esse é o momento de ter representantes nossos, toda mudança só acontece de dentro para fora… só catadores irão olhar para nós como catadores”.
O período de pouco mais de 1 hora passou rápido para quem estava acompanhando ao vivo. Mas a live segue disponível no Youtube e Facebook da Unisol Brasil para acompanhamento na íntegra desse espaço de debate e construção.