Fala Cooperado! São Paulo
Entrevista com Rosa Maria, da Presidente da Cooperativa CMR (reciclagem), em Itapevi (SP). Conteúdo que é parte também da Revista Unisol Brasil, edição que circula em maio deste ano.
A CMR integra a Rede Verde Sustentável (RVS), também em São Paulo. Rosa Maria foi indicada para representar a RVS para o 1° Encontro das Mulheres Catadoras, em Ourinhos (SP). Aqui ela conversa sobre gênero e como a CMR e como o movimento de reciclagem lida com as demais identidades de gênero.
Unisol Brasil – Na sua experiência na Economia Solidária, qual o papel ocupado e desempenhado pela mulher na região Sudeste, em especial em São Paulo ? Que avanços houveram em relação aos anos anteriores?
CMR – A mulher catadora na região Sudeste do Brasil, se revela extremamante eficiente por destacar-se da seguinte forma: sua coragem de cobrar direitos em pé de igualdade; na capacidade de gestão; na defesa de igualdade nos espaços e nos desafios participativos; se impondo para atuar na defesa de direitos igualitários; e sabiamente vem conquistando espaço atuando como protagonista de uma história de resistência.
Os avanços somente nos últimos três anos já trazem resultados, como a criação da Secretaria Estadual das Mulheres Catadoras (de materiais recicláveis), a participação das mulheres catadoras na formação em logística, cooperativismo, socialização, gestão, mediação de conflitos, entre outros, atuando na função de educadoras nas cooperativas. E ainda, com ações de mudanças de lideranças nacionais no Estado. Crescemos também na atuação dentro da Economia Solidária, somando forças no Movimento Nacional de Catadores de Recicláveis (MNCR).
UB – Dentro do cooperativismo como o MNCR vê esta questão de gênero ? Em relação a este assunto, quais demandas estão em pauta e quais enfrentam dificuldades para entrar em pauta e porquê ?
CMR – Nós, que somos parte do MNCR, ainda temos grandes desafios para vencer o preconceito e as reações machistas, muito fortes no Brasil, e que são milenares. Nas cooperativas, grupos e catadores avulsos temos ainda muita luta para conquistar o respeito de igualdade e de gênero. Não queremos competir, queremos é somar esforços. As decisões são em assembléias e sabemos que a maioria são mulheres, o que ajuda nesta luta. A opinião compartilhada vem da árdua tarefa de liderar. Refletimos por várias vezes que liderar exige que possamos crescer com nossos liderados. E formar novos líderes sem a preocupação de transformar comportamentos em atitudes de perdas.
Nossas demandas na Região Sudeste estão no passo a passo, respeitando os limites de necessidades de vários grupos existentes em nosso meio. E temos o tempo de adaptação na construção do processo de autonomia e crescimento por meio dos Comitês MNCR.
UB – Além da mulher, existem demandas dos seguimentos T (travestis e transgêneros) ?
CMR – A Secretaria Estadual das Mulheres Catadoras chegou para ser um divisor de águas para o crecimento participativo. Temos que criar mecanismos que nos auxiliem nos desafetos voltados às questões homofóbicas e no fortalecimento harmonioso da relação humana. Questões preconceituosas em relação homossexualismo, travestis e transgêneros devem ser motivo de reflexão em 2015, a fim de trazermos à tona a verdadeira inclusão social nos comitês da cidade, parte do MNCR.
UB – Algo mais que possas comentar e que não foi perguntado ? Por exemplo, o trabalho da secretaria de mulheres como esta sendo desenvolvido ?
CMR – Em março, teremos uma formação política na Secretaria de Mulheres, que trará desafios de como lidar com estas diferenças citadas nas questões anteriores. Como trabalhar as relações. Como olhar nossas familias e seus desafios. Como ver as questões de educação, saúde, drogadição, habitação, entre outras.